Documentário Juízo provoca discussão no Cine Brasília

A pré-estréia do documentário Juízo, da diretora brasiliense Maria Augusta Ramos, provocou o público presente no Cine Brasília, na noite de terça-feira (18). Após a exibição do filme, foi difícil encontrar alguém calado na sala de cinema. Boa parte da platéia aplaudiu a obra, enquanto muitas pessoas continuavam a discutir sobre o tema. A Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil aproveitou a reflexão para realizar um debate. Participaram das discussões com a platéia os conselheiros seccionais Raul Livino e Jomar Alves Moreno, a diretora do documentário e o representante do governo federal Fábio Silvestre. A presidente da OAB/DF, Estefânia Viveiros, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello assistiram o filme. Para o advogado criminalista Raul Livino, o documentário retrata bem a realidade de adolescentes pobres em conflito com a lei. “Nós vemos que os ‘Cajes’ e as ‘Febens’ da vida são verdadeiras prisões, escolas para a Papuda”, afirmou. “O filme mostra a face real da Justiça, aquele que não conhece a realidade do fórum ficará chocado”, completou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/DF, Jomar Alves Moreno. A diretora Maria Augusta Ramos disse que o objetivo não era desenvolver uma tese, mas “humanizar os menores demonizados pela sociedade”. Juízo acompanha a trajetória de meninas e meninos pobres, com menos de 18 anos, entre o instante da prisão e o julgamento por roubo, tráfico, homicídio. Como a identificação dos adolescentes é vedada por lei, eles são representados por jovens não infratores que vivem em condições sociais similares. Todos os demais personagens do filme – juízes, promotores, defensores, agentes e familiares – são pessoas reais filmadas durante as audiências na 2ª Vara da Justiça do Rio de Janeiro e durante visitas ao Instituto Padre Severino, local de reclusão dos adolescentes. O retrato do Poder Judiciário exibido gerou polêmica. O documentário tem como um dos protagonistas a juíza Luciana Fiala, que ao aplicar as penas nega-se a aceitar as condições sociais dos jovens infratores como atenuante. Além disso, o filme revela as altas taxas de reincidência criminal. “O filme mostra que não há finalidade nenhuma quando se pune, é apenas a manutenção do poder, para dominar”, disse Livino. Moreno concordou: “O sistema hoje não educa e não ressocializa, serve apenas para prender”. Fotos Valter Zica