Punição para os crimes virtuais - OAB DF

“Ser inclusivo, ser plural, ser independente,
ser uma referência no exercício da cidadania.”

DÉLIO LINS

Punição para os crimes virtuais

Por ESTEFÂNIA VIVEIROS Presidente da Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil A internet é atualmente um dos maiores instrumentos de democracia. Tal qual uma praça pública, ela estimula a liberdade de expressão e equilibra as vozes da sociedade, sem se importar com o status social dos interlocutores. Mas, assim como uma praça pública, o mundo virtual precisa ter regras claras e sanções para quem as descumpra. Essas normas não servem para calar e não devem atingir a democracia, mas garantir a integridade e o convívio saudável. Popularizada a partir da década de 1990, a internet tem abrangido cada vez mais as nossas vidas, tornando-nos dependentes e mais imersos nessa tecnologia. É difícil pensar a vida moderna sem os e-mails, programas de conversação instantânea, sites, blogs. Trabalho e diversão se confundem na rede. Entretanto, da mesma forma que crescem as benesses para o dia-a-dia, surgem cada vez mais armadilhas e problemas causados pelo mau uso. Estamos sujeitos a ataques virtuais, vírus, golpes, difamações, calúnias e todo tipo de infortúnio. Ações essas de mentes malévolas ou de experts que buscam vantagens próprias ou a ruína dos outros, sem contar aqueles que destroem apenas pela satisfação em provar seus conhecimentos em informática. Infelizmente, estamos à mercê desses malfeitores, sem que nada possa ser feito efetivamente contra eles. E é importante destacar: o crime virtual não machuca menos do que o do mundo real. Exemplo disso foi a penosa experiência da família Del’Isola, que passou pela dor de perder em 2004 a jovem Maria Cláudia em um assassinato brutal. Não bastasse isso, a família teve de enfrentar a tristeza de ver as fotos mostradas no julgamento serem divulgadas pela internet. E com a agravante de que essas imagens estavam sob a responsabilidade de uma estudante de direito, que tem como pressuposto a pretensão de fazer o compromisso ético de zelar pelo bem-estar social e individual das pessoas, seja por meio da advocacia, da magistratura ou no Ministério Público. Tal atitude, totalmente condenável ética e moralmente, não pôde ser punida criminalmente por falta de legislação sobre o tema. Lamentável. Envergonha-nos saber que o Código Penal brasileiro em vigor é de 1940 e jamais foi devidamente reformado, salvo por pequenas alterações. Vemos agora o esforço de nossos senadores ao correr atrás do prejuízo, a reboque da criatividade dos criminosos. No dia 10, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei da Câmara nº 89/2003, que tipifica e criminaliza diversas práticas virtuais delituosas, como a famigerada pedofilia, que merece uma discussão à parte. Palmas para nossos congressistas pelo importante passo contra a impunidade, mas não podemos nos esquecer de que esse mesmo projeto perambula pela casa há cinco anos. O texto volta agora para a Câmara, uma vez que sofreu alterações, e esperamos dos nossos deputados agilidade no processo de votação. É lastimável constatar que a legislação eleitoral esteja tão à frente da penal nessa questão, até porque não poderiam estar dissociadas. Políticos e candidatos estão às turras com a Justiça eleitoral por não poderem fazer suas campanhas livremente pela internet, tais quais são feitas em outros países. Os Estados Unidos nos dão exemplos nos dois pontos. Os presidenciáveis demonstram a força democrática da rede, mas o Judiciário norte-americano há muitos anos coloca na cadeia os hackers e criminosos virtuais. Como podemos aceitar que a discussão política sobre a internet se sobreponha aos direitos do cidadão? Como dizem os mais velhos e sábios: tudo tem o seu tempo. Passou da hora de revermos essas questões. O presidente do Senado, senador Garibaldi Alves, está atento. Além de cumprir uma promessa e garantir a aprovação do PLC nº 89/2003, criou, na mesma semana, uma comissão de juristas para reformar o Código de Processo Penal — elaborado há 66 anos. Como presidente da OAB/DF, garanto que vamos acompanhar cada passo dessa comissão a fim de que seja buscada uma legislação atualizada e condizente com os anseios da população. Queremos uma internet livre, que respeite democraticamente as diferenças e a liberdade de expressão, mas que seja um instrumento que nos leve à evolução e não à destruição dos nossos valores.