Palestra: Psiquiatra fala sobre a importância do acompanhante para pessoas com autismo

Tomaram posse na noite desta segunda-feira (05/4) os membros da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Autismo da Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF). O evento contou com a participação do médico Sérgio Paulo, psiquiatra especialista no tratamento de pessoas que estão dentro do espectro autista. Na ocasião, ele abordou o tema: “Um Olhar Médico: A Importância do Acompanhamento Especializado para o Estudante Autista”.

Emoção e responsabilidade

A abertura e a condução dos trabalhos ficaram a cargo do secretário-geral da OAB/DF, Paulo Maurício Siqueira, que se emocionou ao falar de sua experiência pessoal e familiar com autistas, e pregou sobre uma sociedade mais igualitária. “Essa é uma das comissões mais queridas de nossa casa, pois trabalha em prol da sociedade e dos direitos das crianças e de seus familiares. Só com respeito criaremos uma sociedade mais igualitária e sem intolerância”, disse.

O presidente da Comissão, Edilson Barbosa, agradeceu aos membros que tomaram posse e falou sobre o compromisso de auxiliar os autistas e suas famílias a terem mais qualidade de vida e respeito na implementação dos seus direitos “Estamos no quarto mandato de nossa comissão, mas desde que nosso filho foi diagnosticado percebemos que a luta pelos direitos dos autistas é diária. Temos muito que fazer ainda, e aqui no DF o poder público não respeita os direitos de nossos filhos. Vamos seguir cobrando acompanhamento especializado em sala de aula a Criação do Centro de Referência de Atendimento aos Autistas e tudo mais que eles tem de direito e que não é cumprido”, ressaltou Edilson.

A vice-presidente, Marlla Mendes de Sousa, falou que nas reuniões da Comissão as discussões, e até as divergências, já trouxeram várias vitórias para os autistas do DF e suas famílias. “Nossa luta é pela causa dos autistas, e nesse ponto somos intransigentes e muito unidos. As necessidades deles são muito diferentes das de outras pessoas com deficiência, por isso a necessidade de uma comissão específica. Aqui ficamos sabendo dos avanços nos tratamentos, buscamos e trocamos informações, e criamos essa verdadeira rede de acolhimento”, comentou Marlla.

Palestra

O médico Sérgio Paulo iniciou falando da legislação já existente e que indica o acompanhamento especializado ao estudante autista, e de iniciativas que já foram feitas com bons resultados, mas que foram abandonadas ou reduzidas pelo Poder Público do DF. Citou o programa Educador Social Voluntário, onde jovens de comunidades auxiliavam os estudantes com a supervisão de um professor responsável. “O atendimento educacional especializado e o acompanhamento nas escolas existem para mediar as necessidades específicas dos estudantes. Esse trabalho auxilia o professor no bom desenvolvimento dos seus objetivos educacionais, no caso dos autistas, este trabalho é indispensável”, explicou.

O espectro autista, conforme pesquisas de institutos norte-americanos, tem prevalência em um a cada 54 crianças. No Brasil, onde não temos estudos específicos sobre o autismo, estima-se que 45,6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, cerca de 24% da população conforme o Censo de 2010. O próprio Ministério da Saúde indica que essas pessoas tenham acompanhamento em sala de aula, porém, isso não é cumprido pelo Ministério da Educação. “Os indivíduos com deficiência precisam desse suporte a vida inteira, e isso tem um custo altíssimo para as famílias. Quem aqui não conhece uma mãe que teve que parar de trabalhar para cuidar de um filho com autismo? Por isso o Poder Público tem que investir e auxiliar as famílias para que ninguém fique sobrecarregado”, alertou Sérgio Paulo.

Para o especialista quanto mais suporte o autista tiver em seu desenvolvimento, mais autonomia ele terá. E com isso, além de trazer mais qualidade de vida para ele e sua família, diminui os custos tanto dos seus responsáveis legais quanto os gastos públicos gerados por sua dependência de terceiros. Quanto mais cedo os autistas tiverem contato com ciências inovadoras, como a Análise de Comportamento Aplicado (ABA), melhores resultados em seu desenvolvimento, afirma o palestrante. “O método ABA é simples, uma pessoa com 40 horas de treinamento e com a supervisão de um terapeuta, habilitado para tal, pode aplica-lo com resultados excelentes. E funciona? Sim, nos Estados Unidos ele é usado dessa forma com grande eficiência”, demonstrou o médico. No final de sua apresentação, Sérgio Paulo pediu para que os autistas adultos, e que já conquistaram sua independência, sejam envolvidos nas discussões e sejam ouvidos por todos “eles sabem o que querem e a forma como eles se relacionam com o mundo é importante para que eles vivam bem e felizes”.

Texto: Euclides Bitelo/Comunicação OAB/DF
Fotos: Roberto Rodrigues