Desafios e dificuldades enfrentados por mulheres no Judiciário foram debatidos na Seccional

Brasília, 21/06/2016 – Com intuito de debater os desafios da mulher no Judiciário, a OAB/DF promoveu, na noite de segunda-feira (20), palestra sobre “A importância da Mulher no Judiciário do Distrito Federal”. A juíza Rejane Jungbluth Suxberger, do TJDFT, uma das palestrantes, alertou sobre a dificuldade enfrentada por mulheres recém-formadas na advocacia e as constantes provações pelas quais precisam passar para se firmar na profissão.

“Só sendo mulher e recém-formada para saber o que é entrar em uma sala de audiência, ser observada como mulher e ser julgada por sua condição feminina. Nós somos muito lembradas por nossas qualidades de beleza e de fragilidade, quase nunca pela competência”, ressaltou.

mulher2De acordo com a juíza, um dos maiores desafios, independentemente da área de atuação, é estar constantemente provando sua capacidade. “Por traz disso tudo a gente têm filho, marido e uma casa para tomar conta. Eu faço tudo que um homem faz, só que ainda faço de salto alto. A sociedade não nos facilita em nada. No mundo jurídico, não nos facilita como advogadas e nem nos facilita como magistradas”, destacou.

A presidente da Comissão da Mulher Advogada da Seccional, Cristina Tubino, destacou que sua sensibilização com a causa aflorou após fazer parte da comissão e perceber os diversos preconceitos enfrentados por mulheres no dia a dia da profissão. “Depois que eu virei presidente da Comissão da Mulher Advogada eu cresci muito no que se refere ao fator empatia. Isso porque passei a perceber muito mais alguns preconceitos velados que eu também sofria, mas que eu deixava passar por questão de auto-defesa e também porque eu não me incomodava. Eu levava na brincadeira. Temos que nos impor e ir em frente”.

mulher5Na Defensoria Pública do DF há quase 20 anos, a defensora Ana Luiza Pontier de Almeida, que também ministrou palestra, contou sua experiência profissional com caminho trilhado sem muitos obstáculos. “Eu tive muita sorte na minha carreira e na minha vida. A minha realidade pode não ser a realidade da maioria, mas não tenho o que reclamar. Problemas eu tive, mas aprendi a me impor. Eu acho que a gente se impõe muito pela nossa capacidade e pela nossa competência. Eu nunca me senti, dentro da minha instituição, discriminada. Escolhi ser defensora desde quando eu comecei a estagiar. Meu dia a dia é pontuado com muito respeito. Sei que existem preconceitos, mas, no meu caso específico, não sofri”.

A vice-presidente da Seccional, Daniela Teixeira, lembrou que o Brasil nunca teve uma procuradora-geral da República e nem uma ministra da Justiça. De acordo com ela, esses fatores, entre diversos outros, mostram a clara discriminação contra a mulher para cargos importantes. “Eu tenho que enxergar que está muito longe de termos direitos iguais. Nós, mulheres advogadas, somos invisíveis. O sistema não está adaptado para a mulher. Mulher não é minoria, nós somos maioria no Brasil, em Brasília, na OAB Nacional e na OAB/DF. Nós precisamos exigir que o nosso órgão de classe e que o Poder Judiciário nos enxergue. Nós vivemos em um mundo extremamente machista”, ressaltou.

mulher3Para a presidente da Comissão de Direitos Humanos, Lívia Guimarães, a questão das dificuldades enfrentadas por mulheres advogadas vai muito além de ter que provar sua capacidade e competência. “O assédio também é um problema muito sério. Em relação a magistrados, nós infelizmente ainda recebemos cantadas quando vamos despachar. Por mais que nós tenhamos postura, a pronta resposta a esse magistrado cria uma situação que nós não merecemos passar. Nós estamos no exercício da profissão”, destacou.

Diretora da Escola Superior de Advocacia (ESA), a advogada Carolina Petrarca ressaltou que a mulher é imprescindível ao Judiciário brasileiro. “Trazemos um pouco mais de sensibilidade, um pouco mais de paciência e um pouco mais de luta por justiça e por um mundo menos desigual. Fico imensamente feliz quando entro na sala de audiência e me deparo com uma juíza, com uma defensora pública ou uma promotora, porque nós temos de fato sensibilidade para atuar em todos os casos”.

A abertura do evento contou com a presença do presidente da OAB/DF, Juliano Costa Couto, que parabenizou os trabalhos e elogiou a atuação das mulheres da Seccional. “Entendo que está casa tem mulheres de peso, de fibra e de talento que são plenamente capazes de tocar em frente os projetos, inclusive esse que tangenciam o tema das mulheres”.

mulher4A juíza Rejane Jungbluth Suxberger, do TJDFT, a defensora pública Ana Luiza Pontier de Almeida, da Defensoria Pública do DF, a vice-presidente da Seccional, Daniela Teixeira, e a presidente da Comissão de Direitos Humanos, Lívia Magalhães, foram as palestrantes do tema. Organizada pela Comissão da Mulher Advogada da Seccional, a mesa foi presidida pela conselheira e presidente da comissão, Cristina Tubino. A presidente da Comissão de Combate à Violência Doméstica, Lúcia Bessa, também participou do evento.

 
Comunicação Social – Jornalismo
Foto: Valter Zica
OAB/DF