Leia artigo do presidente da Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF), publicado neste domingo (21), pelo Correio Braziliense
A qualidade da esperança que construímos entre dois carnavais
DÉLIO LINS E SILVA JR.
postado em 21/02/2021 06:00 / atualizado em 21/02/2021 10:44
Vivemos um ano de pandemia separado por dois carnavais. O primeiro deles iniciando justamente em nosso segundo ano de gestão na OAB/DF, quando aprendemos a cultivar nossa resiliência em grupo, seguir em frente de cabeça erguida e motivar quem caminha ao nosso lado, compartilhando os imensos desafios.
Nem em meus piores pesadelos esperei gerir essa casa com a missão de dar assistência a quarenta e sete mil advogadas e advogados, obrigado a, entre outras coisas, fechar todas as nossas salas de apoio; administrar 75% de inadimplência e zelar por mais de 200 famílias de funcionários; apoiar parcela da advocacia carente de auxílio financeiro e de ferramentas básicas de trabalho.
O cenário de guerra ocasionado pelo vírus trouxe dificuldades inéditas, as quais, sinceramente espero que nenhum outro futuro gestor de Ordem se veja obrigado a enfrentar nunca mais. Mas creio que o modo como encaramos os problemas, os desafios e os sustos da vida determina a maneira como chegaremos ao outro lado. Com a coragem típica da advocacia, enfrentamos os problemas e hoje posso dizer que nem nos meus melhores sonhos teríamos feito tanto.
Desde o início da crise, com a liderança do comitê de acompanhamento da pandemia, reforçamos o papel social da OAB, lutando pela sociedade em várias frentes, com ações junto aos poderes constituídos. A tecnologia nos permitiu garantir a continuidade dos serviços da OAB mesmo com nossos funcionários trabalhando remotamente.
Portal de serviços, atendimentos por e-mail, telefone e Whatsapp; aplicativo com nossos serviços na palma da mão; parlatório virtual (que garantiu ao DF o patamar de único estado da Federação que não ficou um dia sequer sem contato com os clientes presos); novas salas de apoio em delegacias; nova sede, na subseção de Águas Claras; inúmeras as palestras, lives e cursos promovidos pela nossa Escola de forma gratuita, tudo isso aconteceu durante o período da pandemia, em um esforço sem precedentes na história da OAB.
Pensamos no bolso dos advogados, prorrogando parcelas da nossa anuidade (a mais barata do Brasil); negociamos junto a instituições financeiras linhas de crédito especiais aos escritórios; facilitamos negociação para os inadimplentes; possibilitamos formas alternativas de pagamento de anuidade por pontos cartão de crédito e lançamos o projeto anuidade zero, cujos pontos permitem o retorno parcial ou até total da anuidade paga.
Lutamos como nunca pelas nossas prerrogativas. É muito difícil saber o que requerer ao CNJ quando se ouve de 50% da advocacia pedidos para a realização de audiências virtuais e dos outros 50% que querem a volta das audiências presenciais, mas, mesmo assim, decisões difíceis foram tomadas ao longo dos meses. A abertura gradual está em curso. O retorno das audiências, das sessões de julgamento, dos atendimentos por magistrados — por meio de formas alternativas — são vitórias nossas, especialmente após o recente estreitamento do relacionamento institucional com os tribunais e os acionamentos do CNJ que fizemos quando foi necessário.
Lançamos um plano de saúde que conta com quase mil vidas; construímos uma clínica exclusiva para a advocacia e colaboradores da OABDF; investimos mais de um milhão de reais em auxílios aos colegas que necessitaram; fornecemos teleorientação gratuita, 24 horas por dia, sobre os riscos do coronavírus e auxílio psicológico para toda a advocacia de forma gratuita; fornecemos mais de mil litros de álcool gel para as salas de apoio; EPIs ; distribuímos 32 toneladas de alimentos para aproximadamente mil colegas em dificuldade; mais de 500 advogadas foram beneficiadas com exames gratuitos de mamografia; mais de 400 advogados foram beneficiados com consultas e exames visando ao tratamento do câncer de próstata.
A Seccional, dentro do seu papel institucional em favor da saúde pública, também coloca-se à disposição das autoridades por meio de seu braço assistencial, a CAADF, para colaborar com os procedimentos de vacinação no DF. Fizemos e continuaremos fazendo tudo em conjunto: Diretoria, Comissões, Subseções, CAADF, ESADF e colaboradores. Agora, enquanto milhões de pessoas no mundo inteiro recebem sua dose de vacina e nos aproximamos da luz no fim do túnel, viramos o ano com a esperança renovada, sempre lembrando daqueles que partiram e abraçando os que de nós necessitam.
Foto: Valter Zica