Levantamento realizado em 2019 mostra que pretos tiveram redução da média salarial. Grupo também representa maioria entre desempregados
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que população branca do Distrito Federal recebeu salário 61% superior ao de pretos e pardos (negros), em 2019. Enquanto, por um lado, os moradores de Brasília têm a maior renda do país, por outro, enfrentam a 7ª maior desigualdade racial entre os profissionais, na comparação com outros estados.
Os dados são do estudo Síntese de Indicadores Sociais, divulgado na última quinta-feira (12). A pesquisa expõe que a desigualdade não se limita à folha de pagamento, mas também atinge aqueles que estão desempregados.
– ‘Racismo gera pobreza’
Para o doutor em Direito, sociólogo e advogado, Hector Vieira, quando a população negra aparece em desvantagem, a discriminação faz parte da conta. “Todos os problemas são suportados dentro de um sistema maior, que é o racismo”, segundo Vieira.
“O ponto central é o racismo estrutural. Não é a pobreza que gera racismo, é o racismo que gera pobreza”, diz o professor.
O especialista, que é membro da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) cita que a igualdade nas oportunidades de trabalho e renda é assegurada em lei, na Constituição Federal, e no Estatuto da Igualdade Racial. No entanto, para ele não é possível debater desigualdade apenas com base na lei.
“Hoje, com 520 anos de história do Brasil, é ingênuo a gente achar que 300 anos de escravidão não reverberam. É uma população que não tinha formação e passou a ser criminalizada. Por isso, a importância de ações para garantir as mesmas condições de bens, serviços e direitos”, afirma.
Hector Vieira, que faz parte dos 27,5% pretos e pardos com nível superior completo no país, conta que sentiu o preconceito estrutural e institucional na pele. “Eu poderia passar horas contando casos, mas em um deles, eu estava no tribunal, como advogado, e me confundiram como o segurança. Ninguém me confunde com o juiz”, diz ele.
Reportagem publicada por G1 DF em 16/11/20
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Foto capa: Fantástico/Reprodução