Vestir-se bem é um desafio para quem está começando na profissão e até para os que já têm mais tempo no mercado. Nas palavras da professora Cíntia Castro Tirapelle (foto), especialista em dress code, proprietária do Atelier de Imagem Corporativa, mais do que trajar-se de uma maneira adequada para eventos sociais, ambientes de trabalho ou faculdade, o profissional precisa pensar na construção de “uma imagem positiva junto aos colegas de profissão e ao mercado de trabalho”.
Para entender como fazer isso, a equipe de Comunicação da OAB/DF a entrevistou e você confere, a seguir, os principais trechos da conversa.
OAB/DF: Dra. Cíntia, quais são as regras? Como uma advogada ou um advogado deve vestir-se?
Cíntia Castro Tirapelle: Não existe um manual dos Tribunais, mas há regras universais do dress code profissional, que têm sua rigidez, principalmente para carreiras mais formais como o Direito, pois consagraram-se com o uso e o costume, desde a faculdade e até aqui na OAB também. Estão claras, na verdade, e é fundamental pautar-se pelo bom senso sempre. Quando falamos em um dress code, estamos tratando de uma adequação para cada situação de vida. Há um dress code profissional, outro para eventos, outro para os finais de semana. Isso quer dizer que, ao falar desse tema, não estamos tratando tão somente de vestimentas para o uso profissional. Temos de estudar mais amplamente ensinamentos do dress code.
OAB/DF: Vestir-se adequadamente é fundamental, mas não é tudo?
Cíntia Castro Tirapelle: Exatamente. A imagem visual nunca pode ser desassociada dos comportamentos profissional e corporativo, que possuem, também, suas regras. Não adianta você estar bem vestido se você não tem postura profissional adequada. A sua aparência vai cair por terra. Em vista disso, não haveria coerência e consistência em sua imagem, não levando confiabilidade e autoridade aos seus empregadores e/ou clientela.
OAB/DF: A advocacia tem uma forma considerada clássica de vestir-se. Por quê?
Cíntia Castro Tirapelle: A advocacia é um dos segmentos profissionais mais formais que existem. Isso vem de séculos! Não conseguimos romper com a formalidade, pois estamos ligados a estruturas que são muito formais em suas essências: OAB, tribunais, ambientes com autoridades presentes.
OAB/DF: Há margens para flexibilizações?
Cíntia Castro Tirapelle: Flexibilizações são pequenas. No ano 2000, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal (STF) passou a permitir que mulheres adentrassem usando calça. Antes, não podiam. Mesmo que usassem calças sociais, de alfaiataria, não se aceitava. A permissão de acesso era para mulheres trajando saias ou vestidos. O que advogadas e advogados precisam ter em conta é que escolheram uma carreira com formalidade. Precisa haver bom senso. Distinguir, primeiramente, o que é formal e o que é informal.
OAB/DF: Acha que as flexibilizações em outras áreas poderão em algum momento chegar à advocacia?
Cíntia Castro Tirapelle: Importante perceber que a flexibilização do dress code para profissionais de startups e empresas de publicidade, por exemplo, não chegou ainda a profissões mais formais. É muito difícil que chegue a segmentos como a advocacia. Isso porque a formalidade é parte do exercício profissional da advogada e do advogado. As pessoas mais jovens não podem confundir-se. As campanhas que falam da valorização da pessoa como ela é e da sua marca pessoal não se aplicam, muitas vezes, nem em ambientes que buscaram dar uma impressão de mais flexibilidade. Quando entramos em bancos, o gerente, os profissionais estão formalmente vestidos. Não mudaram.
OAB/DF: Qual é o estilo para as mulheres?
Cíntia Castro Tirapelle: Para mulheres: vestidos um pouco mais fechados, sem transparência, sem decotes, saia mais comprida observando a regra de três dedos, no máximo, acima do joelho. As saias não podem ter fendas, a não ser as formais e pequenas. Alcinhas muito finas e costas de fora não fazem parte do dress code corporativo. É interessante que a advogada tenha uma movimentação e conforto maior ao trabalhar. Se usar o decote, ou a alcinha, ao abaixar, por exemplo, poderá ter constrangimento. Devemos evitar a sensualidade. A sandália aberta e de salto alto traz sensualidade. Então, devemos usar scarpins, sapatos mais fechados, sandálias mais discretas.
OAB/DF: Qual é a forma adequada para homens?
Cíntia Castro Tirapelle: Para advogados, eles devem sempre usar um costume ou um terno. Qual a diferença entre os dois? O terno tem três peças: blazer, calça e colete interno. O costume é o blazer e a calça sociais, de alfaiataria. O terno é mais elegante, formal e sofisticado. O normal, a regularidade, pede o costume e a camisa social e a gravata.
OAB/DF: Como funciona o casual day na advocacia?
Cíntia Castro Tirapelle: É um dia para trabalhar mais à vontade, sextas-feiras, em geral. Mas, veja que alguns grandes escritórios, tradicionais, não permitem isso. Não adotam em sua política interna. Outros usam. A pessoa precisa saber se a prática do escritório compreende o casual. E se adotar, aí precisa perceber que não é qualquer roupa. É um jeans escuro porque já traz a formalidade. Jeans claro? Nem pensar! Risquem! Sempre usar esse jeans escuro com camisa social e, de preferência, um blazer. Chegando ao escritório, dependendo da cultura interna, a pessoa poderá tirar o blazer para ficar mais à vontade, lembrando de recolocá-lo para atender um cliente ou ir a algum Tribunal. Um dos itens de roupas mais formais e que impõe respeito é o blazer. Serve para qualquer segmento profissional. Passa a imagem de mais autoridade, confiabilidade. É a melhor peça de roupa para isso.
OAB/DF: Alguma recomendação especial para o casual day das mulheres?
Cíntia Castro Tirapelle: Se uma advogada usar jeans escuro, pode colocar uma camisa mais simples por baixo e um blazer, que estará muito bem. Se ela evitar decotes, alcinhas muito finas, poderá tirar o blazer no escritório. Daí, se tiver de sair e ir ao tribunal, por exemplo, é só colocar o blazer. Ficará adequada. Serve para o advogado também. Camisa social boa, tecido bom, sem desgaste, sem estar desbotada, dará a ele uma imagem visual que impressionará bem seus colegas de trabalho e clientes.
OAB/DF: Sapatos e acessórios têm importância?
Cíntia Castro Tirapelle: Sim. As pessoas conhecem as outras pelos sapatos que usam. Os homens têm de estar com os sapatos bem engraxados. Não precisa ser um par de sapatos italiano, caro, mas bem cuidados, limpos. As mulheres, também, devem se preocupar em manter os seus calçados com todos os detalhes. Se começar a desgastar e/ou quebrar o salto, mandar consertar imediatamente. O que não pode é, pelo uso do calçado, passar imagem ruim, de desleixo, de descuido. Precisa passar uma imagem de cuidado para a empresa que trabalha e para quem é o seu cliente.
OAB/DF: Há uma contestação para esses usos e costumes?
Cíntia Castro Tirapelle: Sei que temos alguns problemas. Aqui, em Brasília, e em outras localidades do Brasil, acerca das regras. Há uma reivindicação de advogadas mais jovens, principalmente, que estão protocolando junto a ouvidorias queixas sobre proibições ao uso de vestimentas. A questão é que, nos Tribunais, a regra é não chamar atenção para si. Essas regras visam que os trabalhos transcorram sem atrapalhar o andamento regular da audiência, ou do despacho, ou da sustentação oral. Não devemos chamar a atenção para a própria imagem, para o corpo.
OAB/DF: Na pandemia, as pessoas têm observado esses usos e costumes?
Cíntia Castro Tirapelle: As pessoas, na pandemia, começaram a trabalhar em casa e estão sentindo-se muito à vontade. Deveriam pensar e imaginar que, ao entrar em uma chamada, ou videoconferência, audiências, sessões, estão no escritório. Não dá para flexibilizar isso! Vale o dress code. Não precisa usar o terno, o costume, se não for em audiência já designada, ou marcada, mas uma camisa social tem de ser. Outro dia, durante audiência virtual, vimos um juiz, o promotor, o escrevente, as partes e os advogados, sendo que um dos advogados estava vestido informalmente e estava sentado em uma rede (rs) . Total falta de bom senso! É inaceitável esse tipo de situação.
OAB/DF: As pessoas estão percebendo que precisam de ajuda ou orientação sobre vestir-se e comportar-se?
Cíntia Castro Tirapelle: O jornal The New York Times e a revista Exame fizeram um estudo de profissões mais procuradas, do ano passado para cá. E uma das mais buscadas é a consultoria de imagem e de comportamento. As pessoas estão com dificuldades, neste momento, de saber o que usar e o que não usar. Mas, digitalmente, é muito importante entender que o uso dos meios faz com que a pessoa pense em enquadramento, iluminação etc. Também, na adequação do que está vestindo e do que as pessoas verão ao fundo da imagem. As mulheres devem maquiar-se, como se estivessem indo ao trabalho. Precisam ter presença. Precisam ser vistas, visualizadas. As pessoas prestarem atenção no que estão falando. Há uma “netiqueta”, que é a etiqueta da Internet. Nela, compreendemos como escrever e-mails, como usar WhatsApp, o que falar em grupos, como fazer chamadas, videoconferência. Aprender os detalhes e aplicar.
OAB/DF: Qual é a sua dica final?
Cíntia Castro Tirapelle: Sensibilidade é tudo. Qual é a imagem que a empresa que você trabalha tem? Como os colegas que trabalham há mais tempo se vestem? Vamos dizer que a advocacia pede um estilo elegante, tradicional e clássico. Observe isso. A imagem que você deve passar, seja nos escritórios, seja nos tribunais ou seja em eventos jurídicos precisa ter coerência e consistência. Isso é vestir-se bem, mas não esqueça de comportar-se bem. Senão, você vira uma personagem. Tenho o caso de um grande profissional, jovem, brilhante, mas que fora do ambiente formal de trabalho sempre foi extremamente informal, passando a ideia de ser até mais novo do que era. Alcançou antiguidade para passar de juiz de 1ª instância para o de 2ª instância, mas não conseguiu ascender. Merecimento ele tem de sobra. Poderia estar na 2ª instância, porém ao pesquisar viu que não passava a imagem de amadurecimento para esse passo. Austeridade. Autoridade. Isso, também, você passa ao criar sua marca pessoal e profissional, importantíssimas nos dias de hoje para lhe identificar em um mercado tão competitivo e desafiador e na sociedade. Criação de imagem estratégica e reputação estão diretamente associadas. Ao longo do tempo, você vai criando sua melhor imagem e comportamento profissional e consolidando sua reputação.
OAB/DF: Se a pessoa não tiver muito dinheiro, ainda dá para seguir essa dica?
Cíntia Castro Tirapelle: Dou aula na ESA/DF em turmas regulares e participo do projeto Carreiras da OAB/DF – uma residência jurídica com foco em pessoas que acabaram de se formar ou que se aposentaram e eram bacharéis de Direito e, agora, estão advogando. Ensino que, para vestir-se bem ou formalmente, você não precisa de muitos recursos financeiros. Há opções de vestir-se com tecidos bons. Tem de evitar comprar os tecidos com muito poliéster porque serão de roupas que vão durar pouco. Elas não resistem nas lavagens. Daí que é o barato nem sempre compensa. Se você tiver de trocar aquela roupa várias vezes, gastará mais do que se comprar uma peça boa. Onde e o que comprar? Consultores de imagem corporativa ajudam nisso. A pessoa pode e deve buscar apoio até mesmo na internet. Reforçando sempre que dress code, simplesmente, não é tudo! Comportamento é fundamental e tem de ser condizente com a imagem que se passa.
SERVIÇO
Entre 21 e 25 de setembro, a OAB/DF realizará o III Congresso de Gestão Jurídica do Distrito Federal, evento virtual e totalmente gratuito, iniciativa da Comissão de Gestão de Escritórios de Advocacia. Um dos destaques dessa programação é o painel Gestão de Pessoas/Liderança, palestra sobre “Imagem e Etiqueta Corporativa Voltada à Advocacia”, a ser ministrada, no dia 24, pela professora e advogada Cíntia Castro Tirapelle.
Você poderá ter mais informações na página do evento, que está com inscrições abertas. Participe!
Tire dúvidas sobre dress code com a professora Cíntia Castro Tirapelle. Escreva para [email protected]
Comunicação OAB/DF
Texto: Montserrat Bevilaqua
Foto de capa- br.freepik.com
Foto do post: Cíntia Castro Tirapelle (divulgação)