Marcha das Prerrogativas passa pelo DF nesta terça (22) - OAB DF

“Ser inclusivo, ser plural, ser independente,
ser uma referência no exercício da cidadania.”

DÉLIO LINS

Marcha das Prerrogativas passa pelo DF nesta terça (22)

Em busca do respeito às prerrogativas dos advogados, o Conselho Federal da OAB, a Seccional do DF e presidentes das Seccionais de todo o país realizaram diversas em ações durante toda esta terça-feira (22). Foi a vez de o Distrito Federal receber a Marcha das Prerrogativas da Advocacia. Em ato público na sede do CFOAB,  foi lido o Manifesto da Advocacia Brasileira e foram desagravados dois advogados inscritos na Seccional.

Eliane Cristina Pestana e Werley Granado Junqueira foram desagravados por constrangimentos e ofensas às suas prerrogativas profissionais. A advogada foi destratada pelo agente Carlos Eduardo de Miranda, que interferiu negativamente, com juízo de valor próprio, quando a advogada acompanhava sua cliente no registro de um boletim de ocorrência. “Minha palavra é gratidão pelo ato da OAB neste momento. A sensação é de defesa do advogado, dos direitos, das prerrogativas tão aviltados no dia a dia da advocacia. Muito obrigada por esse ato”, destacou Eliane. Leia a nota de desagravo.

Já o advogado Junqueira foi ofendido pelo policial Rogério Santos Alencar, que o impediu de acompanhar o interrogatório, bem como de manter contato com seu cliente. “Agradeço esse apoio da OAB com os advogados que tiveram suas prerrogativas violadas. Sabemos que não é fácil o dia a dia do advogado militante. São práticas corriqueiras por delegados, juízes que confundem prerrogativas com privilégios, quando na verdade é o contrário. Temos que combater essas ilegalidades e abusos praticados diariamente”. Leia a nota de desagravo.

Juliano Costa Couto, presidente da OAB/DF, reafirmou o compromisso da Seccional com as prerrogativas. “Tenham certeza nós não deixaremos que qualquer tipo de violação seja perpetuada no Distrito Federal. A atuação livre do advogado é fundamental para garantia do direito de defesa e respeito aos direitos fundamentais. O respeito às prerrogativas é fundamental, notadamente no atual quadro de abusivo de fortalecimento das forças policiais no Brasil”, disse ao completar que “precisamos que os advogados levem à Ordem os fatos de desrespeito ao exercício profissional para que tomemos providências”. Os desagravos foram subscritos pela OAB nacional, os presidentes das Subseções de todo o Brasil, a Comissão Nacional de Prerrogativas e a Coordenação nacional das Caixas de Assistência.

Para Claudio Lamachia, presidente da OAB nacional, momentos como esse são extremamente importantes. “Nós estaremos percorrendo todo o Brasil, juntamente com as Seccionais e Subseções, para dizer que nós advogados e advogadas falamos em nome do cidadão, pelo cidadão e em respeito do cidadão. Os advogados são os verdadeiros defensores da liberdade, honra, da dignidade, do patrimônio e muitas vezes da vida”. “Os advogados brasileiros não estão sós nesta luta. A Ordem dos Advogados está ao lado deles empunhando essa bandeira do Estado democrático de Direito.

O diretor da OAB nacional e conselheiro federal da OAB/DF, Ibaneis Rocha, enfatizou a luta do sistema OAB pelo respeito ao exercício profissional da advocacia. “O advogado é representante legítimo do cidadão e deve ser tratado com igualdade e respeito. A Ordem estará sempre ao lado dos advogados e advogadas, lutando pela defesa de suas prerrogativas”.

Presente ao ato, a vice-presidente da OAB/DF, Daniela Teixeira,  afirmou que “é muito importante que os advogados percebam que a OAB está de braços dados com cada um deles na questão das prerrogativas. Nós não vamos fugir da responsabilidade que temos em garantir as prerrogativas de cada um deles”.

Manifesto

O presidente da Comissão Nacional de Prerrogativas, Jarbas Vasconcelos,  leu o Manifesto da Advocacia Brasileira. “É imperioso assegurar o equilíbrio de forças entre a acusação e a defesa, o que constitui a principal condição para um julgamento imparcial e justo. A igualdade de tratamento e o respeito mútuo entre os operadores do Direito garantem esse equilíbrio, transmitindo à sociedade a confiança no correto e eficaz funcionamento do Poder Judiciário”, disse Vasconcelos.

Ao saudar a advocacia brasileira como um todo, Lamachia destacou o trabalho realizado pela Comissão Nacional de Prerrogativas e fez agradecimentos especiais ao presidente Jarbas Vasconcelos, ao vice-presidente, Cássio Telles, ao procurador nacional de prerrogativas, Charles Dias, e aos procuradores-adjuntos, Claudio Demczuk de Alencar e Raul Ribeiro Da Fonseca Filho. Leia, abaixo, a íntegra do manifesto:

MANIFESTO DA ADVOCACIA BRASILEIRA

MARCHA DAS PRERROGATIVAS

22 de agosto de 2017

A luta de toda a nação brasileira por liberdade e direitos durante a ditadura militar de 1964 confluiu para a edificação de um Poder Judiciário fortalecido na Constituição de 1988. Em razão disso, a sociedade brasileira testemunhou, nestes quase 30 anos de regime democrático, o protagonismo do sistema de justiça.

A promoção de uma sociedade ética, justa e igualitária é objetivo compartilhado por todos os integrantes do tripé da Justiça: advocacia, magistratura e Ministério Público. Assim, aperfeiçoar o funcionamento das instituições jurídicas, a par de constituir finalidade da OAB, é compromisso formal pronunciado por todo advogado e toda advogada ao assumir a profissão.

É imperioso, portanto, assegurar o equilíbrio de forças entre a acusação e a defesa, o que constitui a principal condição para um julgamento imparcial e justo. A igualdade de tratamento e o respeito mútuo entre os operadores do Direito garantem esse equilíbrio, transmitindo à sociedade a confiança no correto e eficaz funcionamento do Poder Judiciário.

Isso é fundamental, pois a Justiça constitui serviço público de primeira necessidade, voltado ao cidadão – e não àqueles que nela atuam, sejam da advocacia, da magistratura, do Ministério Público ou do serviço público. Assim, promover o acesso à Justiça e obter prestação jurisdicional célere e de qualidade são objetivos primordiais pelos quais todos devem empenhar-se, pois o acesso à Justiça é a cesta básica da cidadania.

Embora a concretização desse ideal ainda esteja distante, o Brasil poderia estar em situação muito mais satisfatória. Afinal, foram destinados ao Poder Judiciário R$ 79,2 bilhões, o que equivale a 1,3% do PIB, conforme revelado pelo Relatório Justiça em Números 2016, com dados referentes ao ano de 2015. Além disso, com 451.497 integrantes, dos quais 17.338 são magistrados, o Judiciário tem contingente de servidores maior que o das Forças Armadas.

Não obstante, há muitos desafios por enfrentar. Existem, por exemplo, mais de 5 mil cargos de juízes criados e não providos, déficit que seria certamente superior a 10 mil magistrados, se considerados os acúmulos de varas e juizados especiais, bem como os afastamentos. Ademais, o CNJ identificou que, depois de um longo trâmite nos tribunais, um processo ainda demora, em média, mais 09 anos na fase de execução.

Pelos números, o nosso Judiciário seria não apenas o maior, mas o melhor do mundo. Contudo, estamos longe disso.

A Ordem dos Advogados do Brasil, na primeira etapa do Projeto Caravana das Prerrogativas – que já visitou vários Estados da Federação –, também pôde constatar a insuficiência da prestação jurisdicional e os obstáculos impostos ao acesso à Justiça. As dificuldades incluem

fóruns sem água e energia elétrica, instalações em péssimo estado de conservação e até de salubridade, carência de servidores, comarcas nas quais não constam juízes há mais de 07 anos, juízes que respondem simultaneamente por três ou mais varas de comarcas diferentes e juízes ausentes das suas comarcas. Logo, assim como faltam educação e saúde, Justiça também falta no País.

A situação descrita é, frequentemente, ainda mais grave no que concerne à Defensoria Pública e ao setor policial, formando um quadro aterrador do sistema de justiça brasileiro e de segurança pública. Em vista disso, como falar em acesso universal à justiça ou no princípio de sua inafastabilidade? Não há dúvidas de que o sistema de justiça brasileiro, diante da morosidade de suas decisões, muitas vezes por falta de capacidade instalada, também é causa do aumento dos índices de violência urbana e rural, além de concorrer para que a efetividade dos direitos da cidadania seja tardia e rarefeita.

As falhas do sistema – consubstanciadas nas tentativas de privilegiar alguns agentes de promoção da Justiça em detrimento de outros, bem como na imposição de interesses corporativos em lugar dos interesses sociais – gera desequilíbrios que comprometem a boa administração da Justiça. A advocacia, função essencial à Justiça, não pode ser aviltada nos fóruns do País.

As prerrogativas asseguradas aos advogados e às advogadas para o exercício do seu múnus público não são suas, mas do cidadão brasileiro, que necessita de um profissional digno, respeitado e valorizado para promover a defesa de seus direitos.

Nesse sentido, a restauração ética da República deve ser feita sob o mais estrito respeito dos primados constitucionais do devido processo legal, do contraditório e do direito de defesa, pois fora da lei não há solução. Não podemos aceitar que em nome do combate ao crime se cometa outro crime!

A Nação almeja uma Justiça que, além de célere, respeite a Constituição e as leis, que promova a cidadania nos seus mais elementares valores e que respeite o direito de defesa, assegurando à advocacia as prerrogativas que lhe foram outorgadas pelo ordenamento jurídico, a exemplo do livre acesso aos autos; do contato direto e sigiloso com seus constituintes; do sigilo das conversas telefônicas e da transmissão de dados para seus clientes; do uso da palavra nos juízos e tribunais; da possibilidade de apresentar requisições sem temor de ser processado; do direito de emitir suas opiniões jurídicas sem receio de ser criminalizado.

Aqueles que desrespeitam a advocacia atentam contra o direito da própria cidadania que a advocacia representa, praticando, portanto, ofensa mais grave do que as perpetradas pelos réus por eles condenados ou acusados. A Justiça que queremos é a Justiça célere, ética e de qualidade, a qual, acima de tudo, respeita o povo brasileiro e os seus advogados e as suas advogadas. Assim, a Ordem dos Advogados do Brasil conclama a sociedade brasileira, os Poderes constituídos e as instituições jurídicas a lutar pelo aperfeiçoamento constante da Justiça, sempre em busca da excelência no atendimento do povo brasileiro, destinatário final da prestação jurisdicional.