Tema da redação do Enem 2017, os “desafios para a formação educacional de surdos no Brasil” levaram à Comissão de Educação da OAB/DF a fomentar o debate acerca da implementação das políticas públicas inclusivas. Para discutir a realidade dos surdos, a comissão reuniu cerca de 500 pessoas, nesta terça-feira (24), entre pais, alunos, especialistas, representantes do governo, conselhos, entre outros.
Para entender o assunto, é preciso explicar os diferentes tipos de surdez. Existem os surdos sinalizantes, que têm a língua de sinais como sua primeira língua; os oralizados, que têm a língua portuguesa como primária para a interlocução; os implantados, que possuem implante coclear; e ainda os surdocegos, entre outros.
Durante a abertura, o presidente da OAB/DF, Juliano Costa Couto, disse que “nosso Estatuto nos obriga a cuidar não só da advocacia, mas também da sociedade, da democracia, do Estado democrático de Direito e do desenvolvimento social. Faremos o que for necessário para implementação e concretização das políticas em prol dos surdos do DF e do Brasil”.
O presidente da Comissão de Educação da OAB/DF, Luis Claudio Megiorin, fez um discurso emocionado sobre o evento, e contou que é preciso avançar na inclusão de libras nas escolas e no dia a dia da sociedade. “Vocês são muitos, só no DF são 50 mil, no Brasil são 50 milhões. Estamos muito longe da inclusão verdadeira. Somente o acesso com garantia de matrícula não nos interessa. Nós exigimos que a permanência na escola com qualidade de ensino lhes seja garantida”.
A presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, dividiu seu sentimento em relação ao tema da redação do Enem de 2017. “Fiquei muito feliz com as críticas negativas, porque diziam que os jovens nunca haviam pensado na questão para respondê-la. A questão social foi muito maior do que a nota que os alunos puderam tirar”, disse. Para ela, “dar voz, dar rosto, dar face às pessoas que estavam abandonadas foi para mim um dos maiores motivos de satisfação na minha carreira profissional. E isso eu devo a todos vocês”.
O presidente do Conselho de Educação do Distrito Federal, Mário Sérgio Mafra, afirmou que acompanhou “de perto toda essa perspectiva dos surdos sendo integrados na escola convencional e formando em nível superior. O que estamos fazendo é o resgate da importante educação para essas pessoas que tanto precisam da escola e assistência”.
Diretora de políticas de educação especial do Ministério da Educação (MEC), Patrícia Raposo, conta que o tema é importante para dar visibilidade a questão da educação dos surdos. “No momento em que a Ordem dos Advogados do Brasil traz à tona esse tema dos desafios da educação dos surdos no Brasil, a ação se torna intersetorial cada vez mais nas políticas brasileiras, entendendo que todos os segmentos da sociedade devem participar das finalidades da educação”.
A abertura contou ainda com o depoimento emocionante do estudante Yuri Moraes, que é surdo-cego e aluno de letras-libras na Universidade de Brasília (UnB). A promotora de Justiça do DF Marcia Rocha também fez uso da palavra na solenidade de abertura.
Durante todo o dia foram debatidos temas como os desafios para a inclusão dos surdos no sistema de ensino público; no dia a dia; no ensino privado; os desafios da diversidade dos surdos no brasil; o olhar surdo aos efeitos do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 sobre a educação bilíngue oferecida nas escolas brasileiras e sua relação com a convenção da ONU; os desafios do intérprete educacional – formação e profissionalização; os desafios das políticas educacionais e linguísticas vigentes no contexto da diversidade dos surdos, das suas necessidades e demandas, na prática da sala de aula; acessibilidade Comunicativa para os Surdos, Deficientes Auditivos, Implantados e Surdocegos e a necessidade de professores efetivamente bilíngues, periodicamente avaliados, como nos Estados Unidos da América (EUA).