Seccional celebra Dia de Conscientização do Autismo e cobra políticas públicas - OAB DF

“Ser inclusivo, ser plural, ser independente,
ser uma referência no exercício da cidadania.”

DÉLIO LINS

Seccional celebra Dia de Conscientização do Autismo e cobra políticas públicas

Brasília, 30/3/2016 – Em comemoração ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado no dia 2 de abril, a Seccional da OAB do Distrito Federal reuniu pais, filhos autistas, especialistas e representantes do governo para debater a realidade vivida por pessoas com este transtorno e cobrar políticas públicas. O evento, realizado no dia 30 de março, contou com a participação da vice-presidente Daniela Teixeira e do conselheiro federal Severino Cajazeiras.

Daniela Teixeira destacou a função social da Ordem. “Este evento é a demonstração da sociedade invadindo a OAB. Este é nosso papel, receber a sociedade e verificar o que podemos fazer para ajudar”, disse. “A Constituição brasileira é a única do mundo que prevê que as crianças são prioridade. Toda criança é prioridade em qualquer política pública do Estado”, destacou. O conselheiro Severino Cajazeiras parabenizou o engajamento de familiares, educadores e organizações em prol das pessoas com espectro autista. “Vocês merecem todo o nosso respeito por estarem num movimento tão maravilhoso e importante”.

Os trabalhos foram conduzidos pela presidente da Comissão de Defesa da Pessoa com Autismo, Adriana Monteiro. “Quando pensamos neste evento, pensamos em como nos tornamos conscientes diante do autismo. Nós não conseguimos imaginar outra forma se não ouvindo as pessoas com autismo e suas famílias”.

autismo4A presidente da Comissão de Direitos Humanos, Livia Magalhães, também esteve no evento. Lívia contou que teve a ideia de criar a Comissão do Autismo em junho de 2015, e está muito feliz com a continuidade do trabalho na nova gestão. “A Seccional abraçou a nossa causa. Não tínhamos ideia da repercussão que teria. Lançamos uma cartilha que ficou famosa em todo o país. Continuem na luta, a união de vocês será a diferença na vida das pessoas com autismo”.

O representante do Movimento Orgulho Autista Brasil, Vinicius Mariano, afirmou que “há muito ainda a ser cumprido na lei e muito a ser aperfeiçoado. Se você não cuidar da criança, você perde a mãe e a avó. Você tem ali uma tragédia anunciada. Por isso a atuação jurídica de vocês tem um aspecto social muito importante”.

Berenice Piana, que dá nome à lei federal de proteção aos direitos da pessoa com autismo, encaminhou um vídeo para parabenizar a Comissão pela iniciativa. “Tudo o que aconteceu até hoje foi porque os protagonistas assumiram seu papel. Quero parabenizar e cumprimentá-los por mais uma vez estarem assumindo seu papel. Se hoje nós temos uma lei que nos protege, é porque os pais assumiram seu papel e deram voz ao autista. Se nós precisamos levantar a sua voz para eles terem seus direitos garantidos, nós faremos isso”.

Consciência autista e protagonismo

autismo3Evellyn Diniz, do blog Poder dos Pais, trouxe seu relato sobre a educação de suas filhas com autismo, em graus diferentes. “Os pais têm que enfrentar o desconhecimento da ciência, do sistema de educação e da saúde. Abracei a diferença e trouxe para mim essa responsabilidade. O autismo me trouxe para o lado da visão mais ampla das pessoas”, pontuou. A mãe contou que depois de vários problemas na escola, resolveu tentar a educação domiciliar em casa, o que deu muito certo para a família. “Não é fácil protagonizar essa história. Eu queria deixar um alerta para a educação domiciliar no Brasil. As crianças estão se desenvolvendo de forma brilhante”.

Rita Louzeiro, autista e irmã de um autista clássico, também trouxe seu relato sobre a educação de pessoas com autismo. “Quando a escola diz que uma pessoa é incapaz de aprender, ela está matando essa pessoa. Eu tive que trabalhar muito o emocional do meu irmão. O conceito de autismo precisa ser revisto à luz do que eles estão falando”, apontou. “A gente não vai evoluir se a gente não escutar, abrir a mente e desconstruir essa incapacidade que nos afasta de sujeitos extremamente capazes”.

O vice-presidente da Comissão da Pessoa com Autismo, Paulo Leal, deu seu testemunho enquanto pai do down autista, Vicente, de 20 anos. “Para mim é uma felicidade muito grande falar do meu filho Vicente Leal. Ele estava se desenvolvendo muito bem durante a infância mas, em determinado momento, ele começou a mudar. Por último, Vicente começou a ter comportamentos agressivos com ele próprio”, contou. Depois de idas a inúmeros médicos e diversos tratamentos, a família recebeu o diagnóstico de autismo. “Nesse aspecto, é importante saber que tem traço de autismo no comportamento, até para não me cobrar tanto. A importância desse diagnóstico para o pai é importante. Só em saber que há algo de autismo, já me deu uma outra visão”, desabafou o pai.

A servidora pública Silene Santana participou dos debates para trazer sua experiência enquanto autista. “Descobri tarde o autismo. Fui em vários psiquiatras, neurologistas. Eu pagava os mais caros e ninguém nunca falou de autismo. Eu queria fazer tudo e aprender tudo. Cada época da minha vida eu tive hiperfoco em alguma coisa. A vida do autista é uma luta, é sofrido. Aqui são pouquíssimos especialistas em adultos”, disse a autista ao defender o ensino em casa. “Se tiver o homeschoolling, o autista poderá estudar o que ele quiser e se socializar com quem quiser”.

Também presente, a mãe e professora de autistas Maria Lúcia Cardoso salientou que “o que precisamos todos os dias é nos tornarmos interpretes competentes deste mundo complexo. Nós precisamos aprender e nos tronar intérpretes competentes da história, da vivência do indivíduo autista”.

Políticas públicas

autismo5No último painel, em que foram abordas políticas públicas voltadas às pessoas com autismo, Suzana Brainer, coordenadora geral de articulação política de Inclusão no Sistema de Ensino do Ministério da Educação, explicou que o país passa por um processo de reconstrução. “O MEC, desde 2003, trabalha com o fortalecimento de espaços exclusivos [para crianças especiais], onde trabalhamos com professores especializados e identificando o que cada estudante precisa”, disse. “A inclusão tem esse mérito de nos virar o avesso, de nos tirar da nossa zona de conforto. Cada um é único, e cada um será definido a partir dele mesmo”.

A representante do Ministério da Saúde Vera Mendes defendeu o diagnóstico precoce do transtorno. “A gente precisa qualificar os serviços, o acolhimento da família, os tratamentos e os padrão de conhecimento”, disse ela ao falar sobre as diretrizes voltadas para este público dentro do Ministério.

Também participaram da mesa Iedes Braga, diretora de ensino especial do DF, e Edinizis Belusi, representante do Centro Especializado em Reabilitação. Ao final, Tatiana Lima Roque, mãe do autista Guilherme, fez uma palestra motivacional para mães de filhos com o transtorno do espectro autista.

 

Comunicação Social – Jornalismo OAB/DF
Fotos: Valter Zica