ARTIGO: “Jesus: Renascimento, liberdade e feminismo”, Nildete Santana de Oliveira

Jesus era um verdadeiro revolucionário, infringiu diversas regras de sua época, pregou o amor e a liberdade, veio para implantar um novo tempo. Sua missão na terra era evangelizar o amor, ensinar a amar o próximo como a si mesmo. Algo tão excêntrico e inovador outrora e ainda hoje.

E a mulher? Deveria ser amada? Aceita? Respeitada? Incluída? Ouvida?

Vejamos algumas passagens bíblicas protagonizadas por Jesus há aproximadamente 2000 anos!

Nos Evangelhos, Jesus, dirige-se às mulheres, como a Samaritana, a quem não repreende por sua vida pregressa (1). Em outro episódio da Bíblia, Jesus visita uma família de amigos, quando uma das filhas, Maria, está sentada escutando Jesus, e Marta censura essa irmã por não a ajudar nas tarefas domésticas da casa. Contudo, Jesus não só aceita a iniciativa de Maria como a louva por ter escolhido a atitude da verdadeira sabedoria.

Em outra passagem com Maria Madalena, disse Jesus: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra” (2) . Jesus enxerga a sua humanidade, a humanidade em todas as pessoas, homens e mulheres. Constatação translúcida nas palavras inscritas em Gálatas: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois são todos iguais em dignidade” (3).

Jesus Cristo consagra às mulheres a esperança da liberdade e do respeito à sua integridade, a sua filáucia, enfim, a dignidade humana. Simplesmente porque atribuiu à mulher a mesma altivez atribuída ao homem. O que é isso, se não o feminismo?

Não podemos esquecer da dupla natureza do Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, e, desta forma, autoridade absoluta na representação da verdade, do amor e do respeito ao próximo.

A história de Jesus é o clamor do próprio Deus contra as desigualdades, as iniquidades, as injustiças e contra a própria morte. É clarividente, para os cristãos, que Deus não é um Pai impotente, desazado, irresoluto, ao inverso, é o Deus do poder e da criação nova, do zelo e do amor, que do nada oferece uma nova criação, uma nova vida, um reinício.

A Páscoa é uma festa cristã, uma das datas comemorativas mais importantes entre as culturas ocidentais, que celebra a ressurreição de Jesus Cristo, cuja a origem da palavra advém do termo em hebraico Pesach, cujo sentido simbólico é de “passagem”. É um recomeço, um nascer de novo, um ressurgir.

A morte e especialmente o ressuscitar de Jesus, no terceiro dia, retrata a passagem para outro tempo, cumpre-se uma promessa, realiza-se uma profecia, renova-se a fé, e a vida, concretiza-se e afirma-se toda uma simbologia. A vida e a história de Jesus são repletas de signos de emblemas e de sentidos, nada na experiência de Cristo foi à toa. Nessa sonância, quando Jesus ressuscitou, para quem Ele primeiro apareceu? Para as mulheres!

Jesus ressuscitou! Finalmente, em Jesus, mesmo sobre a morte, a vida triunfou. Foi o grande encômio. Não há mais adversidade. As mulheres foram as primeiras contempladoras da Ressurreição. Viram Jesus vivo! Difundiram boa nova!

Jesus se revela ressuscitado primeiro para as mulheres. “Hoje o Senhor ressurecto aparece às mulheres fiéis de Jerusalém: E eis, Jesus foi ao encontro delas, e disse: Alegrai-vos! As mulheres aproximaram-se, e prostraram-se diante de Jesus, abraçando seus pés” (4).

Maria, Madalena, Verônica, Marta, Suzana, Joana, Maria de Cleófas, e tantas outras, mulheres fiéis (5), basilares e essenciais no plano de Deus. As ações de Jesus Cristo, que Dele fazem um ser humano aberto, acessível, justo e verdadeiro, demonstraram que a mulher pode e deve participar, deve ser respeitada, ouvida e acolhida com igualdade, já que todas/os somos a imagem e semelhança de Deus.

Jesus é feminista? Ele sempre valorizou, incorporou e abarcou a mulher e o feminino, então, não tem porque continuarmos vivenciando uma negação dos direitos da mulher. Façamos desse direito, hoje incorporado à Constituição Federal, uma realidade fática e feliz. Para o mundo ser mais justo e igualitário, melhor e mais humano, a participação feminina e o respeito à mulher se impõem.

Quando afirmo que Jesus era feminista (6), sei bem que o termo, nem sequer o conceito de feminismo, existia a época, mas o significado sim. Contudo, a inferência advém da análise das atitudes perante as mulheres, narradas em diversas passagens bíblicas, dentre as acima mencionadas, em que Jesus de fato acolhe, permite, incentiva, possibilita e aceita a presença feminina, não obstante toda a cultura limitadora da época.

Jesus era feminista! Deve-se olhar e vislumbrar o futuro, e o futuro é a inclusão!

“Não deveis ficar lembrando as coisas de outrora, nem é preciso ter saudades das coisas do passado”, diz-nos o profeta Isaías.

Paulo prefere, também, olhar para frente: “Uma coisa, porém, faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente”.

Feliz Páscoa!

Nildete Santana de Oliveira
Doutora em Direito e Presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB/DF

Referências

  1. ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. Livro de João 4:7-10, 13-26, 28-29. São Paulo. 2ª. Ed, 1993.
  2. ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. Livro de João 8: 7. São Paulo. 2ª. Ed, 1993
  3. ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. Livro Gálatas 3: 28. São Paulo. 2ª. Ed, 1993
  4. ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. Livro de Mateus, 28: 9 e 10. São Paulo. 2ª. Ed, 1993
  5. ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. Livro de Mateus, 27: 55-56. São Paulo. 2ª. Ed, 1993
  6. LEITÃO, Inês. Jesus, o primeiro feminista? Enoncrato em: Jesus, o primeiro feminista? – Ponto SJ . Visitado em: 20 de fev 2021.