Marcando o Setembro Amarelo, que alerta e previne o suicídio, a Comissão de Igualdade Racial da Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF) realizou, na última quarta-feira (28/09), uma roda de conversa abordando os temas “O Suicídio em Interface com o Racismo Estrutural”, “Violência Doméstica – A Dor da Mulher Preta”, e “Para Além da Depressão: o Suicídio e seus Diversos Fatores”.
O presidente da Comissão de Igualdade Racial, Beethoven Andrade, falou sobre o sofrimento que os negros sofrem desde a infância com o preconceito, o que afeta sua autoestima, muitas vezes, para o resto da vida. “Os jovens negros passam por um processo de apagamento da sua subjetividade enquanto cidadãos, o que se reverte invisibilização social, muitos não acreditam em chances reais de mudanças, já que desde as primeiras infâncias são desencorajados como pessoas capazes de alcançar seus objetivos e sonhos”, disse Beethoven.
A primeira palestra foi da psicóloga e consultora da Comissão de Igualdade Racial, Neusa Maria, que ligou o racismo ao aumento do estresse e da vulnerabilidade que acabam levando muitos negros e negras ao suicídio. “A incidência de suicídios na população preta é cerca de 45% maior do que nas outras populações, e em cada dez tentativas uma se consuma. Precisamos criar estratégias para evitar que a pessoa chegue a esse nível de achar que a única solução é tirar a própria vida, e nesse sentido combater o racismo é essencial. E sabemos que é impossível para o jovem negro ser feliz quando ele toma consciência do que significa ser negro no Brasil”, ensinou Neusa.
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O também psicólogo Wesley Ponte, especialista em psicologia da saúde, lembrou que no Brasil são cerca de 38 suicídios por dias, e que pessoas que tentam o suicídio passaram por uma dor psíquica muito profunda, tanto que chegam a conclusão que morrer é uma solução para este sofrimento. “O racismo é uma máquina de moer corpos, e nisso não podemos deixar de citar a necropolítica, onde o Estado é agente da morte. E para os negros isso vem desde a escravidão, pois os pretos e pretas perdiam tudo, começando por sua liberdade. Então a única coisa que lhe pertence é seu corpo, tanto que ele se suicida como uma forma de mostrar que ele quer ter o controle sobre sua vida”, comentou Wesley.
A vice-presidente da Comissão de Igualdade Racial, a advogada Patrícia Campos Guimarães, falou sobre violência doméstica e como isso afeta a vida das mulheres pretas, que acabam sendo as maiores vítimas. “A mulher negra desde cedo, por ter muitas curvas, é extremamente sexualizada. Ao mesmo tempo, a herança da escravidão, faz com que os corpos negros, e principalmente o da mulher negra, é visto como algo que está ali a disposição dos homens. E atualmente, esse sistema neoliberal, apenas reforça essa imagem de que a mulher preta é um objeto, um produto pronto para ser explorado”, disse Patrícia.
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Também participaram do evento a secretária-geral adjunta da Comissão de Igualdade Racial, Victoria Cavaçani; e a secretária-geral da Comissão de Igualdade Racial, Juliana Thereza Marques.
Comunicação OAB/DF
Fotos: Roberto Rodrigues