Briga política causa greve de árbitros do Distrito Federal - OAB DF

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DÉLIO LINS

Briga política causa greve de árbitros do Distrito Federal

10/02/2012 23h15 – Atualizado em 10/02/2012 23h15

Nomeação de indicado por clubes para a comissão de arbitragem coloca sindicato de árbitros e federação em lados opostos

Por Marcelo Junior – Brasília

Uma briga política levou os árbitros do Distrito Federal a entrarem de greve. O motivo foi a escolha do presidente da Comissão Distrital de Arbitragem (CADF), que colocou de lados opostos o Sindicato de Árbitros do DF (SAF-DF) e o presidente interino da Federação Brasiliense de Futebol (FBF), Miguel de Oliveira Júnior. Oliveira foi nomeado pela Justiça interventor durante investigações sobre suspeita de irregularidades no repasse de verbas públicas para a federação.

Segundo o sindicato, o problema começou com a nomeação de Alexandre Andrade para a presidência da CADF. A pedido de Oliveira, o sindicato indicou quatro nomes possíveis para o cargo, mas o escolhido acabou sendo Andrade, indicado por unanimidade pelos clubes do futebol brasiliense. Para o sindicato, isso poderia prejudicar a isenção da comissão, responsável por monitorar a arbitragem. Por isso, eles pedem a exoneração de Andrade do cargo.

– Nós queremos a perfeita lisura, a total idoneidade indicando o nosso comandante. Contra a pessoa do Alexandre, o sindicato não tem nada pessoal, mas é um árbitro que está fora e não conversou com sindicato antes de aceitar essa nomeação – disse o diretor jurídico do SAF-DF, Ciro Chaban.

A nomeação ocorreu no dia 10 de fevereiro. Dois dias depois, o sindicato enviou ao presidente da FBF uma carta pedindo que a decisão fosse reconsiderada. O documento trazia a assinatura de diversos associados ao sindicato, incluindo todos os 16 árbitros que também pertencem aos quadros da Fifa e da CBF. No texto, o SAF-DF alega que “os clubes, a exemplo do que acontece em todo o país, não podem definir membros de comissões de arbitragem, assim como os árbitros não indicam treinadores de clubes”, que a indicação “não pode em nenhuma hipótese originar-se de clubes ou ser a eles delegada, sob o risco de comprometer a imparcialidade” e que isso criaria um “precedente preocupante”.

A falta de acordo sobre o tema levou o sindicato a pedir ajuda externa. Presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB-DF, Fernando da Silva Júnior foi chamado para ajudar nas negociações pelo sindicato, que considera a atuação do interventor “intransigente” até agora. Tentando manter a isenção necessária para ser um mediador no debate, ele lembra que a prerrogativa da escolha é inteiramente do presidente da federação, mas também se preocupa com o precedente de uma indicação feita pelos clubes:

– Eu não estou dizendo que ele [Andrade] não tenha isenção, mas a partir do momento em que ocorre o apadrinhamento dos clubes, fica complicado. Os clubes têm que cuidar da parte deles, não têm de cuidar da arbitragem. Eles têm é que exigir uma arbitragem isenta. Nós tivemos em um passado muito recente episódios lamentáveis, e esse tipo de questionamento contra a arbitragem é muito perigoso.

Com a paralisação – formalmente um pedido de dispensa coletivo -, os jogos do Campeonato Brasiliense de 2012 que começam neste fim de semana serão apitados por árbitros não ligados ao sindicato, mas das chamadas ligas – na maioria das vezes, árbitros de mais idade ou que não atuaram nos últimos tempos.

Outro lado

Presidente nomeado da CADF, Alexandre Andrade se defende. Árbitro há 19 anos e escolhido o melhor do campeonato local em 2010, ele não vê problemas em ter sido indicado pelos clubes, e diz não saber os motivos que levaram à contestação de seu nome:

– Todos afirmam que não têm nada contra a minha pessoa, contra a minha conduta. Eu gostaria de saber o porquê da contestação, essa é a pergunta que não quer calar.

Segundo ele, neste quase um mês no cargo, todos os atos realizados, bem como os sorteios para montagem das escalas, foram feitos de forma transparente. Andrade disse ainda que tem tentado o diálogo, e estranha a posição do sindicato.

– No meu entendimento deve ser uma questão política, porque nós estamos trabalhando dentro da transparência, dentro do mesmo peso e medida e, em especial, dentro da renovação, e eu acho que isso deve estar incomodando os dirigentes do sindicato – disse Andrade.

Fonte: Globoesporte.com