A seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF) promoveu, por meio da Comissão de Direito Militar, o Congresso de Direito Militar e Defesa Nacional. No encontro realizado na última sexta-feira (18/10), autoridades militares e especialistas discutiram os impactos das leis 13.491/2017, que altera o Código Penal Militar, e 13.774/2018, que organiza a Justiça Militar da União. Homenageado no congresso com uma moção de louvor, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, fez uma análise da posição do Brasil no contexto internacional.
Ao abrir o congresso, o ministro do Superior Tribunal Militar (STM), Péricles Aurélio Lima de Queiroz, fez um panorama do que mudou com as leis e destacou a importância do direito militar. “A relevância está na atuação que todos devem ter, militares e órgão jurídicos. Uma frase que gosto muito diz ‘A operação militar termina quando o último dos homens está a salvo do problema jurídico’. Ao encerrar uma operação, mesmo tendo comprido sua obrigação e ordens, podem surgir problemas jurídicos posteriores dessa conduta do militar. E é aí que entra a importância do direito militar nas operações”, destacou.
Entre várias alterações, a lei reformulou a atividade de correição na Justiça Militar da União. Antes exercida na Auditoria de Correição por um juiz de primeiro grau, essa função passou a ser da Corregedoria da Justiça Militar. A lei também alterou critérios para o sorteio dos Conselhos de Justiça; estabeleceu a competência de primeira instância para apreciar habeas corpus, habeas data e mandados de segurança contra ato de autoridade militar; e inaugurou o juízo monocrático, no curso da ação penal militar, em tempo de paz – já havia essa possibilidade em tempo de guerra para processar e julgar civis e praças.
O juiz federal da Justiça Militar Alexandre Quintas pontuou os reflexos das leis. “Essas questões estão sendo debatidas com veemência e muito cuidado na 1ª Instância. Penso que tento ser mais conservador. Isso até para a gente manter essa característica da Justiça Militar especializada. Se abandonarmos o Código Penal Militar e nos servirmos da legislação penal extravagante, a gente estará dizendo que o que fazemos não é um juízo especializado e sim um comum”, destacou. O juiz também indicou o acompanhamento do tema em todas as esferas. “É importante acompanhar a jurisprudência para ficar a par de todas as decisões”, ressaltou.
A advogada especialista em Direito Militar Mariana Roberg percebe que a Lei 13.491/17 não deixou todos os pontos fechados de como deve ser aplicada. “Há coisas que ficaram em aberto, mesmo depois de dois anos de aprovação da lei. Houve vários pontos positivos, mas também muitos pontos abertos e omissos, o que deixa grande insegurança. De forma geral, ela deu mais autonomia à Justiça Militar”, ressaltou.
O procurador-geral de Justiça Militar, Jaime de Cassio Miranda, destacou que as alterações das leis precisam ser aplicadas corretamente. “Eu não vejo diferença se aquela investigação vai ser feita por um delegado de polícia, por oficial da Polícia Militar ou por um oficial das Forças Armadas. A diferença está na qualidade daquela investigação. Nós temos excelentes exemplos em ambas as atuações, mas o que importa mesmo é que se conduza um julgamento correto”, disse.
Jaime Miranda destacou a importância do debate. “A OAB/DF abriu um espaço espetacular para se debater esse tema e, por coincidência, hoje completo 20 anos de Ministério Público Militar, o que me deixa feliz, e me recordo de que em cinco anos de UnB, na graduação de Direito, nunca se discutiu direito e justiça militar, então, eu parabenizo a iniciativa”, afirmou.
Homenagem
Antes de iniciar sua palestra, o general de Divisão do Exército Carlos Alberto dos Santos Cruz foi homenageado pela Comissão de Direito Militar da OAB/DF, que exibiu um vídeo com a trajetória do general. Conduzido ao palco, ele recebeu uma Moção de Louvor pelo relevantes serviços prestados ao Brasil.
Em sua palestra Conferência Especial: O Brasil no Contexto Internacional, ele abordou problemas internos do país, o contexto mundial, assuntos internacionais e credibilidade brasileira no exterior. Cruz afirmou que, quando o assunto é problema interno, o governo deve ter um planejamento excelente. “A população e os investidores devem saber os planos que os representantes têm. Esses planos devem ser divulgados e cumpridos para uma melhor gestão e captação”, explicou.
Para o general, a partir da divulgação dos planos é possível buscar mais investimentos para o país. “Não tem como o Brasil se inserir em um contexto internacional se tem muitos problemas internos e até com corrupção. Outra coisa que atrapalha na busca por capital são os processos de licitações, que são complexos e demorados, o que faz com que os investidores desistam de investir. Temos que ter uma legislação mais ágil”, defendeu.
Também ministraram palestras Joanisval Brito Gonçalves, diretor do Instituto Pandiá Calógeras do Ministério da Defesa, e Alexandre Gonçalves, tenente da Força Aérea Brasileira, dentro do painel Defesa Nacional e América do Sul. Na Conferência Educação Ambiental nas Forças Armadas da Angola – As Implicações Jurídicas, o palestrante internacional foi o Coronel da Força Aérea de Angola Zina Danel.
Para o presidente da OAB/DF, Délio Lins e Silva Júnior, o congresso veio para unir mais ainda representantes de diversas esferas, o que é necessário para a Ordem. “É um momento realmente histórico dentro da nossa Casa receber representantes a magistratura, a advocacia, o ministério público, as forças e civis. Isso se faz necessário para termos um debate eclético e aberto a todos os pontos de vistas, para podermos nos ajudar e contribuir na defesa dos direitos e da justiça”, ressaltou.
O presidente da Comissão de Direito Militar, Andrew Fernandes Farias, também percebe a relevância do congresso. “Está no Livro Branco de Defesa Nacional que é um dever conscientizar a sociedade sobre temas de defesas. E o que a OAB/DF está fazendo é propondo este debate com a sociedade civil e com os militares. Esses temas são muito importante para todos”, destacou. Para a vice-presidente da Comissão, Tâmisa Vaz, todos os palestrantes contribuíram com o debate. “Eles têm muitos conhecimentos para nos passar e ainda da atuação em diversas esferas. A contribuição deles é extremamente válida”, completou.
Comunicação OAB/DF
Texto: Neyrilene Costa (estagiária sob supervisão de Ana Lúcia Moura)
Fotos: Valter Zica