O comum extraordinário de Zuradia da Silva - OAB DF

“Ser inclusivo, ser plural, ser independente,
ser uma referência no exercício da cidadania.”

DÉLIO LINS

O comum extraordinário de Zuradia da Silva

Especial Mês da Advocacia

A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Distrito Federal (OAB/DF) lança um espaço dedicado a homenagear advogados e advogadas. Conheça histórias de superação e se inspire.
A primeira reportagem é sobre a advogada Zuradia da Silva Anselmo.

O comum extraordinário de Zuradia da Silva

“Gosto de colocar desafios para mim mesma”. Assim se resume a recém-formada advogada de 62 anos, Zuradia da Silva Anselmo, que depois de ter três filhos, construir uma carreira como professora e se aposentar na Secretaria de Educação do Distrito Federal em 2011, decidiu cursar Direito e se engajar na advocacia.

“Não pode ficar parada”. Zuradia brinca que se considera muito ativa, por essa razão, não deixou que a aposentadoria significasse uma pedra em sua carreira. Ela continuou dando aulas, mas só se sentiu realmente completa ao ingressar na universidade novamente, mais de 30 anos depois, para dessa vez cursar Direito.

A discrição na realização de um sonho significa para a advogada manter o foco. Para ela, a hora de contar as conquistas é quando tudo está concluído e, por isso, não contou sobre o curso para ninguém. “Pouquíssimas pessoas sabiam, depois da aprovação no Exame da OAB eu contei, mas tem muita gente que ainda nem sabe. Eu quis manter o foco, evitar comentários que me fizessem desanimar”, revela.

Sempre motivada, a advogada conta que estudava sozinha, nunca fez cursinho. O projeto de estudos era constante. Assim, foi aprovada no 31º Exame da Ordem dos Advogados do Brasil. “Eu não sou da emoção, pra mim é uma coisa racional focar em um objetivo, fazer a minha parte com dedicação e usar todas as ferramentas que eu tiver. Eu acho que alcançar o extraordinário está em você encarar tudo como coisas naturais. Passar em um concurso, passar na Ordem, vencer desafios, tudo isso é possível desde que você se dedique e encare como uma realidade desafiadora, que requer dedicação”, reforça.

“Não posso me achar diminuta em relação a ninguém”

“Eu sou uma mulher preta, e com o maior orgulho. Tenho orgulho do meu nome que é diferente. O que poderiam apontar como algo inferior, diferente ou estranho, eu valorizo”. Zuradia não se abala por qualquer coisa. Ela relata inúmeros casos de racismo que vivenciou quando ainda era pequena e outras crianças jogavam pedras nela. Como professora, se recorda das várias vezes que foi discriminada por seus alunos, que também eram apenas crianças, e por pais de alunos. “Uma criança de cinco anos me perguntou como eu sendo preta poderia estar dando aula e ainda disse que não queria ser meu aluno. Alguns mudavam de professor em razão da minha cor de pele”, recorda.

“Desde tenra idade tenho passado por essas coisas, mas nada disso me desmotivou, ao contrário, eu me sinto muito mais fortalecida em continuar”. Zuradia não acredita que nada disso valha suas lágrimas, ela lidou com todas as situações que passou sentindo apenas pena pelos agressores, que são “pessoas pequenas demais para valerem seu desgaste”, em suas palavras. O fortalecimento é o seu lema, é o que busca e o que promove.

“Igualdade nos braços da advocacia”

Seu desejo por igualdade se sustenta nos braços da advocacia. “Se eu tiver que defender alguém por conta da discriminação, eu vou atuar com certeza e com o maior prazer. Muitas pessoas sofrem, são humilhadas, discriminadas. Eu vejo que o Direito é uma possibilidade para resgatar a autoestima dessas pessoas, é preciso fortalecer a autoconfiança. O Direito é a ferramenta que temos para a defesa das pessoas que são massacradas por diversas situações. Quem sabe um dia as coisas mudam?”, vislumbra Zuradia.

Servir ao meu semelhante é como devolvo as coisas para Deus

“Eu não tenho uma frase que me inspire. A minha inspiração é Deus e como Ele é o autor de todas as coisas, e quem me proporciona todas as coisas, tudo que eu faço é voltado para Ele. O medo, o temor, essas coisas quase não fazem parte da minha vida, porque eu coloco Deus em primeiro lugar”, enfatiza.

Zuradia é uma mulher de fé. A paixão pela advocacia provém exatamente desse sentimento de cumprir com um propósito. “Pretendo desenvolver minha profissão nesse pensamento de honrar a Deus por tudo que Ele tem feito por mim”.

“Tudo depende só de você e do que você quer”

Zuradia entende a importância de tudo que fez e de quem é, nenhum baque é suficiente para colocá-la em lágrimas, nenhuma conquista a fará pensar que já foi longe o bastante. Seu plano é seguir sempre ativa, até o último dia de vida.

“Eu preciso me valorizar como pessoa e como profissional para que as outras pessoas me valorizem também. É assim que enxergam o potencial que eu tenho. Então, a advocacia significa mais do que ser advogada, significa defender o mais fraco, não corromper meus valores e fazer prevalecer a honestidade sempre”.

Vislumbrando o futuro, a dra. Zuradia não poderia seguir outra rota. Ela que não teme desafios seguirá estudando. “Tenho como meta montar uma plataforma tecnológica para meus futuros clientes e fazer parte das comissões da Ordem. Inclusive terminando essa entrevista já vou lá no setor responsável me informar como posso contribuir aqui na OAB/DF”, encerra a conversa motivada e demonstrando que apesar de a vida ter lhe apresentado adversidades, encontrar as soluções continua sendo seu maior propósito.

Texto por Rayssa Carneiro (estagiária sob supervisão de Esther Caldas)

Comunicação OAB/DF