Segundo dia da mostra de cinema debate censura à imprensa - OAB DF

“Ser inclusivo, ser plural, ser independente,
ser uma referência no exercício da cidadania.”

DÉLIO LINS

Segundo dia da mostra de cinema debate censura à imprensa

Brasília, 20/11/2013 – “Hoje iremos abordar uma das piores coisas que aconteceram na ditadura, que foi a sensação de medo e insegurança”. Com estas palavras, a presidente da Comissão Especial da Verdade da OAB/DF, Herilda Balduino, abriu o segundo dia da mostra de cinema, na terça-feira (19/11). Com o tema “Cinema insurgente, dialogando com a verdade”, a mostra rememora os 30 anos da interdição e do incêndio da Seccional, além de ter como objetivo consolidar a verdade histórica sobre a resistência da instituição e dos advogados que lutaram contra a ditadura.

“A Ditadura e a Censura”, tema da noite, foi exposto pelo jornalista Hélio Doyle, que relatou as dificuldades e a repressão sofrida pela imprensa na época. “A censura é inerente a qualquer ditadura, e o seu objetivo é justamente impedir a circulação de ideias e opiniões contrárias ao regime. Houve a censura à imprensa e houve também a censura às manifestações culturais. Não bastava censurar a mídia. Era preciso censurar também o cinema, a música, o teatro”.

Doyle relatou como funcionava a censura dentro das redações. “Quando falamos de censura à imprensa é interessante ressaltar que havia, em algumas redações, a censura presente, ou seja, a presença do censor dentro da redação. Isso acontecia naqueles veículos que não aceitavam se submeter à censura. Quando as reportagens eram censuradas, O Estado de S. Paulo publicava versos de Camões, o Jornal da Tarde publicava receitas de bolo e a Veja publicava desenhos de diabinhos. Os veículos proibidos de publicar os textos recorriam a estes artifícios para revelar a censura sofrida”, disse o jornalista.

Hélio Doyle falou também sobre os prejuízos dos veículos de comunicação. “Havia veículos da chamada ‘imprensa nanica’, como se dizia na época, que eram censurados e sofreram muitos mais porque os grandes veículos tinham uma estrutura econômica para suportar os prejuízos que a censura causava. O Jornal Opinião era retido no aeroporto e levado ao departamento de Polícia Federal, e ninguém sabia quando esse seria liberado. Poderia demorar um, dois, três dias, ninguém sabia ao certo e a circulação do jornal ficava prejudicada. Quando o jornal era liberado, era despachado para o Rio de Janeiro e só aí o pessoal da redação ia ver o que tinha sido censurado”.

O palestrante apresentou alguns números da censura ao Jornal Opinião. “De 230 edições, 221 sofreram censura, sendo que quatro edições foram totalmente vetadas, impedidas de circular. Imaginem o que isso significava para um jornal pequeno, sem recursos econômicos e que não tinha dia certo para circular porque dependia do bom humor dos censores liberar ou não. E quando liberavam, às vezes, 50% das matérias estavam vetadas”.

Memórias Finais da República de Fardas foi o documentário exibido, que relata acontecimentos de Brasília em 1984. Enquanto o país vivia a euforia das manifestações públicas pelas Diretas Já, a cidade vivia a situação de ser palco de luta e de resistência pela democracia. Alguns dos narradores desconhecidos desse momento, tanto civis quanto militares, contam suas memórias desses tumultuosos dias.

Programação

20 de novembro
Tema: A ditadura e o Congresso Nacional
Expositor: Professor Octaciano Nogueira
Filme: O Dia que Durou 21 Anos (2012)

21 de novembro
Tema: A ditadura e a tortura
Expositor: Jornalista Jarbas Silva Marques
Filme: Perdão, Mister Fiel (2009)

22 de novembro
Tema: A ditadura e o Poder Judiciário
Expositor: Ministro Sepúlveda Pertence
Filme: Zuzu Angel (2006)

Todos os dias às 19h
OAB/DF – Edifício Maurício Corrêa – SEPN 516 Bloco B Lote 7
Entrada franca
Inscrições: www.oabdf.na.tec.br/eventos
3036-7000

Reportagem – Priscila Gonçalves
Foto – Valter Zica
Comunicação Social – Jornalismo
OAB/DF